Os descendentes de escravos



Sobre os filhos de escravos que permaneceram com a família de Jeremias, se sabe que os três irmãos, Gregória, Domingas e Miguel, eram filhos da escrava Anselma Romana, parda, nascida por volta de 1858, em Tijucas Grande, que pertenceu a Jeremias José Bernardes e netos maternos da escrava Romana, que pertenceu a Jeremias Francisco Garcia, pai de José Francisco Garcia e sogro de Lucinda Rosa Bernardes. Anselma consta na lista de classificação dos escravos para serem libertados pelo fundo de emancipação de Itajaí de 1875. Com a vinda da família Bernardes para o Itaperiú, Anselma continuou morando em Camboriú, onde teve outros filhos.





- GREGÓRIA

Gregória Anselma da Conceição dos Santos, a mais velha dos três irmãos, nasceu em Camboriú. Teve dois filhos, Jovencio, já nascido no ano da libertação dos escravos, e Isabel.


- Jovencio Gregório Anselmo dos Santos nasceu no dia 03 de maio de 1887, foi batizado no dia 15 de novembro de 1895, aos cinco anos de idade, na Igreja Matriz da Barra Velha. Foram seus padrinhos de batismo Manoel José de Souza e Filomena Rosa Bernardes.

Morou na Mantiqueira e não se casou. Faleceu de icterícia aos 41 anos, no dia 09 de fevereiro de 1929, na Mantiqueira, na casa de sua mãe. Foi sepultado no cemitério público do distrito de Barra Velha. Em seu registro de óbito seu nome está como Juvencio Jeremias Bernardes. Comenta-se que ele era filho de um Bernardes.


- Isabel Gregória de Jesus dos Santos nasceu no dia 04 de julho de 1889 e foi batizada no dia 11 de fevereiro de 1891, na Igreja Matriz da Barra Velha, juntamente com a filha de Jeremias José Bernardes, Adalgiza e a neta Elvina, filha de Maria. José Vicente Coelho e Rosa Bernardes foram seus padrinhos de batismo. Recebeu seu nome em homenagem à princesa que libertou a escravidão. Não aprendeu a ler e nem escrever.

Isabel casou com Bernardino Lopes Soares, também chamado Bernardino André Soares da Costa, natural da Penha, filho de Antonio André Soares da Costa e de Senhorinha Maria de Jesus Pinheiro, naturais de Itajaí, no dia 07 de setembro de 1918, na casa de seu irmão Jovencio, na Mantiqueira. Foram testemunhas da união José Vicente Coelho, Joaquim Manoel Moraes e sua esposa Teonilha Maria Coelho. Estavam também presentes, Onofre José Bernardes, Urgel José Bernardes, Theophila Margarida Bernardes, Lucinda Margarida Coelho, Maria Izidoria da Silva, Maria José da Conceição, Filesmina Rosa Bernardes. Na ocasião Isabel tinha 29 anos e Bernardino, 26 anos.

Isabel e Bernardino tiveram cinco filhos: Athanazio, Saturnino, Antonio (Tota), Erotides e Rosa.

Isabel está sepultada no Cemitério São João Batista, em São João do Itaperiú.

- Athanazio nasceu no dia 23 de fevereiro de 1919, às oito horas da manhã, na casa dos pais. Casou com Benta Maria Verguião Maste no cartório de Barra Velha, no dia 21 de abril de 1951. Morou na Corveta e foi funcionário do Estado.

- Saturnino nasceu no dia 05 de janeiro de 1921, às duas horas da tarde, na casa dos pais. Morou em Matinhos. Casou com Maria de Oliveira, em 1967, em Guaratuba, no estado do Paraná.

- Antonio Lopes, o Tota, nasceu no dia 17 de março de 1927 (1925 no registro de casamento), à meia noite, na casa dos pais, no Itaperiú. Não aprendeu a ler e a escrever. Casou com Luciana Francisca de Souza, nascida no dia 20 de julho de 1930, no distrito de Barra Velha, filha de Jacinto Teodoro de Souza e de Francisca Teófila de Souza. O casamento civil ocorreu no dia 23 de dezembro de 1950, na residência do Senhor José Augusto dos Passos, em São João do Itaperiú. João José Mendes foi o Juiz de Paz e o Escrivão foi Alfredo Pedro Borba, filho de Albertina Rosa Bernardes. Foram testemunhas, Demetrio Bernardes, filho de José Jeremias Bernardes, Etelvina Garcia de Azevedo, João Emilia de Souza e João Alexandre. Também estavam presentes, Antonio Athanazio de Sousa e Antonio Martins Polezi. Luciana de Souza Lopes faleceu no dia 02 de março de 1956. Após viuvar, Antonio se casou novamente e mora em Jaraguá.

- Erotides e Rosa também foram embora de São João do Itaperiú.


Gregória permaneceu morando com a família Bernardes e com o casamento da filha Isabel, passou a morar com a família dela, também na Mantiqueira, onde morreu por volta de 1937. Maria Angela, a esposa de Jeremias, sua filha Rosa e Ernesta, esposa de Balicio, quando souberam de sua morte, foram ajudar a preparar o velório.

Conta-se, que após a morte de Gregória, Maria Angela comprou um tecido preto, para que seu marido Jeremias usasse luto, pois era cogitado que Gregória fosse sua parente. Na época os escravos não tinham sobrenome e não se casavam, as escravas tinham seus filhos solteiras e o pai não os assumia.




- DOMINGAS

Domingas Anselma de Jesus nasceu no dia 04 de fevereiro de 1877, em Morretes, Camboriú, sob a Lei do Ventre Livre, que considerava livre todos os filhos de escravos nascidos a partir da sua data. Foi batizada no dia 13 de janeiro de 1878 e foram seus padrinhos o pardo Felippe, escravo de Jeremias e a parda Rita, de condição livre. Tinha apenas 11 anos, quando ocorreu a libertação dos escravos.

Domingas teve uma filha chamada Catharina e um filho chamado Manoel. Mais tarde foi embora para o Itapocú.


- Catharina Domingas Anselma dos Santos nasceu no dia 30 de abril de 1899 e foi batizada no dia 26 de agosto de 1900 na Matriz de Barra Velha. Foram seus padrinhos, Adelino José Coelho e Theonilla Maria Coelho, filhos de Maria Rosa Bernardes. Catharina trabalhou por anos na casa de Joaquim Manoel de Moraes, genro de Maria Rosa Bernardes. Não se casou e teve os seguintes filhos: Martha, Antonio, Ernesta, Antonia, Maria Catarina, Tereza e Artino. Foi morar no Itapocú. Catharina faleceu aos 70 anos, no dia 29/01/1970, no Itapocú. Foi sepultada no Itapocú.

- Martha nasceu no dia 09 de maio de 1917, em São João. Foi batizada no dia 25 de junho de 1917, em São João. Foram seus padrinhos: Marcelino José Perpetua e Francisca Elisa do Rosario.

- Ernesta nasceu no dia 13 de março de 1920 e foi batizada no dia 22 de junho do mesmo ano, em São João, pelo Padre José Schmitz. Foram seus padrinhos Olegario Norberto Vicente e Maria Julia Gonçalves. Foi criada pela viúva Juliana, mãe de Manoel Olegário. Também era afilhada de Maria Angela de Azevedo, a esposa de Jeremias.

- Antonia nasceu no dia 21 de abril de 1922 e foi batizada no dia 29 de junho do mesmo ano, na Capela São João Batista, no Itaperiú. Foram seus padrinhos Onofre José Bernardes e sua mulher Maria José. No mesmo dia foi batizado Bento, filho de Timotheo José Bernardes. Foi criada pelo casal Guilherme Gabriel da Veiga e Alvina, neta de Jeremias, não se casou e teve uma filha enquanto morou em São João, chamada Maria, mais tarde mudou-se para Joinville e ainda vive.

- Maria Catarina dos Santos nasceu no dia 25/09/1925, no Itaperiú, preta, foi criada por Custódia Borges, estudou o primário em São João, se casou com José da Costa, o “Zezena” (*06/11/1924, Itapocú +12/10/1994, Hospital São José, Joinville Sep: Araquari), preto, cuja família era moradora do Itapocú, no dia 28/04/1945, pelo cartório de Itapocú. Moraram no Braço da Serraria, onde ela foi professora, entre 1948 e 1949. Maria faleceu após 1994. Filhos: Antonio (*~1945); Alenir (*~1947); Firmo (*~1949); Aureli (*~1954); e Diná (*~1960).

- Tereza deu aula em uma escola que se localizava onde hoje é o bairro Sertãozinho, em Barra Velha.

- Altino dos Santos, o Artino, o caçula, foi criado em São João por Anastacio Machado, morou no bairro Sertãozinho, em Barra Velha, onde casou e teve seus filhos, Aleixo Artino e Rita.


- Manoel nasceu no dia 02 de novembro de 1908, no Itaperiú e foi batizado no dia 19 de dezembro de 1908 no Itaperiú. Foram seus padrinhos, o tio Miguel Anselmo dos Santos e sua esposa Maria Masilia da Conceição.





- MIGUEL ROQUE

Miguel Anselmo dos Santos, ou Miguel Roque, como era conhecido, nasceu no dia 10 de maio de 1881, em Camboriú, também sob a Lei do Ventre Livre. Tinha apenas 7 anos quando ocorreu a libertação dos escravos, tendo sido criado na família Bernardes. Foi batizado na Matriz de Barra Velha, no dia 02 de julho de 1893, aos 12 anos. Foram seus padrinhos, Feliciano José Coelho e Maria Rosa Bernardes.

Era um negro muito forte e trabalhador. Ficou trabalhando para Jeremias e após a morte deste, para os filhos dele.

Morou no Itinga, quando se casou, aos 22 anos, com a negra Maria Amazilia (Marsilia) da Conceição, de 17 anos, filha de André Pereira da Silva e de Maria Angelina da Conceição, moradores no Itinga, no dia 23 de maio de 1903, no cartório de Barra Velha. Foram testemunhas Ignacio Alves da Silva, Jozé João Dionysio e Fernanda Leopoldina de Oliveira, moradores no Itinga. O casamento na igreja católica ocorreu no dia 03 de outubro de 1905 na Matriz de Barra Velha e foi realizado pelo Padre Ludovico Coccolo. Foram testemunhas, Eduardo Floriano da Costa e José Antonio dos Santos.

O casal teve os filhos: Manoel, Waldemiro Miguel, Paulo João, Rosaria e João. A família morou no Limoeiro, no Itaperiú.

No dia 26/01/1923, Miguel recebeu do Estado de Santa Catarina a concessão de 22.312m² de terras no Itaperiú.

- Manoel nasceu no dia 31 de janeiro de 1912, e foi batizado na Capela do Itaperiú no dia 12 de junho do mesmo ano. Foram padrinhos Jovito Bruno Garcia, filho de Lucinda Rosa Bernardes, e Margarida da Conceição.


- Waldemiro Miguel nasceu no dia 11 de outubro de 1913. Foi batizado na Capela do Itaperiú no dia 14 de março de 1914 pelo Padre Augusto Weicherding. Foram seus padrinhos, Juvenal Marcilino Oflusio e Maria Rosa de Lima.


- Paulo João nasceu no dia 26 de junho de 1915. Foi batizado na Capela do Itaperiú, no dia 19 de dezembro do mesmo ano.


- Rosaria foi batizada na Capela São João, no dia 14 de maio de 1917, com três meses de idade.


- João nasceu no dia 05 de janeiro de 1919, foi batizado em São João no dia 24 de junho do mesmo ano. Foram seus padrinhos Alberto José de Ávila e Maria Isidora de Ávila.




Jeremias também teve outros escravos:



- ROQUE

Roque nasceu por volta de 1829, preto. Solteiro. Consta na lista de classificação dos escravos para serem libertados pelo fundo de emancipação de Itajaí de 1875.



- FELIPPE

Felippe José Bernardes, era pardo, e nasceu por volta de 1855, filho da parda Joaquina, que era escrava de José Coelho da Rocha, tio de Rosa Lucinda da Conceição. Consta na lista de classificação dos escravos para serem libertados pelo fundo de emancipação de Itajaí de 1875. Já pertencia a Jeremias entre 1876 e 1878.

Após a abolição da escravidão permaneceu morando em Camboriú.

Casou com Maria Agueda da Cunha, viúva do pardo Dionisio José Catarina, no dia 30/09/1888, na Igreja Matriz de Camboriú. Foram testemunhas: Cypriano Apollinario dos Santos e Manoel Candido Cabral.



- IGNACIA

Ignacia nasceu por volta de 1862, preta. Consta na lista de classificação dos escravos para serem libertados pelo fundo de emancipação de Itajaí de 1875.





Referências

- APESC. Índice geográfico dos processos de terras da secretaria da agricultura e do abastecimento - Coordenação de Legitimação e Cadastramento de Terras Devolutas - COLECATE. Florianópolis, mar. 2010.
- Livros de Registros Civis.
- Livros de Registros da Igreja Católica.
- Relatos de Mario Bernardes, Guedes Jeremias Bernardes, Herondina da Graça Bernardes, Alzerino Bernardes, Nerilda Maria Bernardes, Eulália Del Monego de Sisti, Catharina Delmonego da Veiga.

Pesquisa, elaboração e organização: Elis de Sisti Bernardes